No cânone religioso do cristianismo, os Três Reis Magos eram visitantes vindos do Oriente que, guiados por uma estrela, chegaram à cidade de Belém, na Judeia, em busca do messias.
Estes homens sábios trouxeram ouro, incenso e mirra, presentes especialíssimos, em geral dados apenas a reis. Representavam respectivamente a natureza real, a natureza divina e a natureza imortal do messias (em hebraico, mashiah; em grego, christós; em latim christus). Na Tanakh (a Bíblia Hebraica) a palavra mashiah pode se referir a um sacerdote ungido, a um rei, aos profetas ou aos patriarcas.
Para Eliphas Levi, todo o dogma cristão tem origens mágicas e cabalísticas e a a visita dos Reis Magos é um ponto importantíssimo, simbolizando a transição das antigas tradições para um novo caminho espiritual.
“(…) nos símbolos evangélicos, vemos o Verbo encarnado ser, na sua infância, adorado por três magos que uma estrela guia (o ternário e o signo do microcosmo), e recebe deles o ouro, o incenso e a mirra: outro ternário misterioso, sob cujo emblema estão contidos alegoricamente os mais elevados segredos da Cabala”.
Ele continua:
“A estrela alegórica dos magos não é outra coisa senão o misterioso pentagrama; e estes três reis, filhos de Zoroastro, guiados pela estrela flamejante ao berço do Deus microcósmico, seriam suficientes para provar as origens inteiramente cabalísticas e verdadeiramente mágicas do dogma cristão. Um destes reis é branco, outro é preto e o terceiro é moreno. O branco oferece ouro, símbolo da vida e da luz; o preto oferece mirra, imagem da morte e da noite; o moreno apresenta o incenso, emblema da divindade do dogma conciliador dos dois princípios; depois, voltam a seu país por um outro caminho, para mostrar que um culto novo é simplesmente um novo caminho, para levar a humanidade à religião única. A do ternário sagrado e do irradiante pentagrama, o único catolicismo eterno”.
Os Reis Magos não eram necessariamente monarcas. No próprio Evangelho de Mateus, o único a mencionar a história, não há nenhuma passagem que indique isto. Nas narrativas mais antigas encontramos a palavra magi (plural para magus), termo que denominava uma casta sacerdotal persa do zoroastrismo, dotados de grande reputação como astrólogos – o que faz bastante sentido, já que estes viajantes teriam encontrado a localização do nascimento do christus olhando para o céu e seguindo a posição de uma estrela.
A alegoria dos Três Reis Magos traz em si profundas reflexões, tanto místicas quanto mágicas. A magia e a religião já foram uma só; separadas pela ignorância, seguem afastadas. O conhecimento arcano, transmutado em alegoria, se conservou precisando se fechar para o vulgo, mostrando-se apenas para o verdadeiro iniciado. Eliphas Levi pontua de forma precisa: “O cristianismo não devia, pois, dedicar ódio à magia; mas a ignorância humana sempre tem medo do desconhecido.”
Nos distantes anos 80, quando não havia internet e a informação era dificílima de ser encontrada, curiosos como eu tinham de se contentar com o pouco que aparecia nas bancas, livrarias e sebos. Foi assim que descobri “O Despertar dos Mágicos”, um livro que li e reli muitas vezes e que, pra mim, funcionou como uma das portas de entrada para o estudo aprofundado do ocultismo.
O Despertar dos Mágicos – arquivo pessoal
O livro foi escrito por Louis Pauwels e Jacques Bergier, ambos fundadores da revista francesa Planète, que é a inspiração direta da famosíssima e saudosa revista brasileira Planeta. Publicado pela primeira vez em 1960, a obra oferece uma análise introdutória sobre ocultismo e esoterismo sob o viés do gênero realismo fantástico, assunto que era moda na época.
A narrativa começa explorando os pensamentos de diversas personalidades históricas, como Paracelso e Loonardo da Vinci, que, segundo os autores, foram os primeiros a vislumbrar a possibilidade de uma realidade oculta além dos limites da ciência convencional.
Através de uma prosa envolvente, Pauwels e Bergier levam o leitor a questionar a compreensão da realidade e a mergulhar nas fronteiras entre ciência e misticismo. Uma das principais premissas do livro é a ideia de que a humanidade já atingiu um alto grau de desenvolvimento tecnológico e espiritual em tempos remotos, mas que tal conhecimento foi perdido em algum momento da história. Os autores argumentam que as lendas de civilizações avançadas, como Atlântida e Lemúria, podem conter pistas sobre esse passado misterioso.
O livro explora ainda teorias sobre sociedades secretas e grupos esotéricos que buscariam preservar esse conhecimento oculto ao longo dos séculos. Embora muitas das ideias apresentadas pelos autores sejam, de fato, fantasiosas, é inegável que eles têm o mérito de abrir portas para a reflexão sobre os limites do conhecimento humano e nossa relação com a espiritualidade.
Apesar de controverso, “O Despertar dos Mágicos” tem desempenhado seu papel ao inspirar leitores que buscam enxergar além do que se vê. E este é o mérito do livro: desafiar os paradigmas estabelecidos e provocar a imaginação do leitor. Independentemente de concordar ou discordar das ideias apresentadas, é uma obra que tem seu lugar na história e que abriu novas possibilidades de reflexões sobre a relação entre ciência, mitologia e espiritualidade.
“A Goetia do Dr. Rudd”, uma obra que finalmente chega às mãos dos estudantes e praticantes brasileiros graças ao trabalho da Editora Via Sestra, oferece uma transcrição inédita do célebre manuscrito “Lemegeton” e inclui quatro grimórios completos: Liber Malorum Spituum seu Goetia, Teurgia-Goetia, Ars Paulina (Livros 1 & 2) e Ars Almadel. O livro foi originalmente lançado em 2007 por Stephen Skinner e David Rankine, respeitados autores, pesquisadores e conferencistas internacionais, apresentando uma compilação inovadora e valiosa de informações sobre a Goetia e suas práticas mágicas.
A Goetia do Dr. Rudd, Editora Via Sestra, bela edição em capa dura com dust cover. Arquivo pessoal.
Uma das características mais notáveis do livro é a introdução e o comentário detalhado do Dr. Rudd, um praticante e mago erudito do início do século XVII, a quem este manuscrito pertencia. Dr. Rudd nos guia através dos diferentes espíritos e entidades descritos da Goetia, fornecendo insights históricos, simbolismo e interpretações das diversas entidades convocadas pelos magos. Essas informações adicionais ajudam a contextualizar e enriquecer a compreensão das práticas mágicas.
Além disso, a obra também apresenta uma reconstrução cuidadosa do sistema ritualístico originalmente utilizado pelos magos para invocar e evocar essas entidades. Dr. Rudd oferece orientações detalhadas sobre os rituais, materiais necessários, palavras de poder e os procedimentos corretos para trabalhar com os espíritos da Goetia. O livro também traz as ilustrações originais dos selos e sigilos dos espíritos, bem como tabelas e diagramas que auxiliam na compreensão dos sistemas mágicos envolvidos na Goetia.
É importante ressaltar que este não é um livro para iniciantes na magia. É recomendado que os leitores tenham conhecimento prévio sobre magia ritualística e sistemas mágicos. Como em todo trabalho de magia, é essencial compreender plenamente os riscos e as consequências envolvidas em tais práticas.
“A Goetia do Dr Rudd” é uma adição inestimável à biblioteca de qualquer estudante sério de magia e ocultismo. Parabéns à Editora Via Sestra por mais este importante lançamento.
“The Black Arts: A Concise History of Witchcraft, Demonology, Astrology, Alchemy, and Other Mystical Practices Throughout the Ages” é uma obra fascinante escrita por Richard Cavendish, estudioso e historiador das tradições ocultas e esotéricas. Publicado pela primeira vez em 1967, o livro continua a ser uma referência indispensável para aqueles interessados no estudo da magia e de suas influências ao longo da história.
Edição comemorativa dos 40 anos da obra, editora Perigee Books. Arquivo pessoal.
Lembro-me de quando folheei este livro pela primeira vez, na casa de um amigo. Era o início da década de 90 e eu estava engatinhando no mundo do ocultismo. Dentro daquela capa azul-esverdeada, um mundo inteiro se abriu para mim. O impacto foi imediato.
“The Black Arts” explora as origens do ocultismo e traça sua evolução através dos séculos. Cavendish examina as práticas esotéricas desde as civilizações antigas até os rituais modernos, fornecendo um olhar abrangente. Uma das maiores forças do livro é justamente esta abordagem imparcial de Cavendish. Ele oferece um estudo objetivo e informativo sobre as diversas manifestações da prática da magia, contextualizando-as culturalmente. O autor pesquisa uma ampla gama de fontes históricas, mitológicas e religiosas para traçar um panorama bastante completo e confiável. Ao longo das páginas de “The Black Arts”, Cavendish explora figuras históricas influentes e se debruça em tópicos como astrologia, alquimia, cabalá, demonologia, invocação de espíritos e práticas de magia cerimonial.
Foto: Arquivo pessoal
O livro também destaca as implicações éticas e morais da magia. Cavendish levanta questões pertinentes sobre os limites da manipulação da vontade alheia e os perigos inerentes ao uso irresponsável do poder oculto. Ele provoca reflexões sobre o equilíbrio entre liberdade pessoal e responsabilidade social quando se trata do exercício da magia.
É importante ressaltar que o livro de Cavendish não é um manual prático de magia, mas sim uma análise histórica sobre o tema. Talvez por isso, “The Black Arts” foi uma obra indispensável em um momento da história recente onde a magia e o ocultismo voltaram a ocupar as manchetes de jornais, mas fontes confiáveis e livres de sensacionalismo eram raras. A análise imparcial de Cavendish permite que os leitores compreendam o contexto histórico, as crenças subjacentes e as implicações éticas dessa prática ancestral. Sem dúvidas, “The Black Arts” foi e ainda é uma importante referência para estudiosos, praticantes ou curiosos. Lamentavelmente, o livro ainda não tem tradução para o português.
Richard Cavendish em seu escritório. Foto: Telegraph.co.uk
O AUTOR – Richard Cavendish (12 de Agosto de 1930 – 21 de Outubro de 2016) foi um escritor inglês especializado em estudos ocultos e esotéricos. Além de “The Black Arts”, teve mais de vinte outros livros publicados, incluindo “The Powers of Evil in Western Religion, Magic and Folk Belief”, “Encyclopaedia of the Unexplained: Magic, Occultism and Parapsychology”, “Man, Myth & Magic: An Illustrated Encyclopedia of the Supernatural” e “King Arthur and the Grail: The Arthurian Legends and Their Meaning”.
O Livro da Lei, também conhecido como Liber AL vel Legis, é uma obra seminal escrita pelo controverso ocultista britânico Aleister Crowley. Publicado inicialmente em 1904, o livro é considerado um dos textos mais importantes do ocultismo no século XX.
Edições nacionais das editoras Chave, Via Sestra e Daemon, respectivamente. (Foto: acervo pessoal)
Segundo o próprio Crowley, o Livro da Lei foi ditado para ele durante um período de três dias em abril de 1904, por Aiwass, uma entidade espiritual. Aiwass transmitiu os ensinamentos centrais da filosofia de Thelema para Crowley, que os escreveu em um texto enigmático. Crowley descreve seu encontro com Aiwass no livro “O Equinócio dos Deuses”. Ele conta que a voz de Aiwass vinha por sobre seu ombro esquerdo, como se o orador estivesse parado em um dos cantos do quarto.
A mensagem fundamental do Livro da Lei é encapsulada na máxima “Faze o que tu queres há de ser o todo da Lei”. Essa afirmação, conhecida como Lei de Thelema, sugere que cada indivíduo tem uma Vontade única e inalienável, que deve ser descoberta e seguida. Para Crowley, esta Vontade individual é a chave para a realização pessoal.
O livro é composto por três capítulos principais, cada um ditado em um dia diferente. O Capítulo I é atribuído a Nuit, a deusa do céu estrelado. É nesse capítulo que são introduzidos Ankh-af-na-khonsu, o sacerdote histórico que criou a Estela da Revelação; a Besta, representativa do arquétipo masculino em sua natureza mais instintiva; e a Mulher Escarlate, também chamada de Babalon, a Prostituta Sagrada. O Capítulo II é atribuído a Hadit, a divindade do infinitamente pequeno, o ponto infinitamente condensado, o centro da infinita circunferência de Nuit, podendo ser interpretado como a essência íntima e a energia vital de cada ser humano. O Capítulo III é atribuído a Ra-Hoor-Khuit, uma forma do deus egípcio Hórus, e contém ensinamentos sobre a Vontade, a guerra espiritual e a busca pela autorrealização.
O Livro da Lei desafia as normas religiosas e morais convencionais, promovendo a liberdade individual, a expansão da consciência e a celebração da sexualidade. Crowley via o livro como uma revelação profética. De fato, ele mesmo considerava-se o profeta da nova era Thelêmica, o Novo Aeon.
O Livro da Lei é um texto controverso, incompreendido e muitas vezes confuso, difícil de ser lido. Suas passagens repletas de simbologias, ousadia e a ênfase na individualidade e no prazer fez com que fosse tido como um livro satânico ou maligno por boa parte da imprensa e dos setores mais conservadores, em todas as décadas e ainda hoje. Na época, a imprensa o classificou como como “the wickedest man in the world” (o homem mais perverso do mundo).
Apesar das controvérsias, o Livro da Lei teve um impacto significativo na história do ocultismo e influenciou várias correntes esotéricas e religiosas. Aleister Crowley deixou um legado duradouro no campo do ocultismo e continua a ser estudado e debatido por praticamente todos os grupos esotéricos e ocultistas desde seu lançamento.
O legado de Aleister Crowley
Aleister Crowley, nascido em 1875, foi uma figura controversa e altamente influente no mundo do ocultismo do século XX. Conhecido como A Grande Besta 666 e auto-intitulado O Profeta do Novo Aeon, Crowley deixou um legado duradouro na esfera do esoterismo e da magia. Sua filosofia e práticas ocultas continuam a influenciar muitos adeptos e estudiosos até os dias de hoje.
Aleister Crowley – tão influente quanto controverso
Além de suas contribuições filosóficas e práticas, a obra e a figura de Crowley também tiveram um impacto duradouro na cultura popular. Sua imagem de “mago do mal” e sua personalidade excêntrica e provocadora fizeram dele uma figura icônica. Muitos artistas, músicos e escritores, como David Bowie, Jimmy Page e Alan Moore, foram inspirados por Crowley e incorporaram elementos de sua filosofia e simbolismo em seu trabalho.
Uma das áreas em que a influência de Crowley é mais evidente é na música. Vários artistas, como David Bowie, Jimmy Page, Ozzy Osbourne e Marilyn Manson, reconhecem publicamente a influência de Crowley em sua arte. David Bowie, em particular, mencionou Crowley em várias ocasiões e chegou a incluir uma foto sua no álbum “Station to Station”. Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin, era um entusiasta da obra de Crowley e adquiriu a Boleskine House, propriedade que foi lar de Crowley. O disco “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, dos Beatles, tem uma das capas de álbuns mais famosas de todos os tempos e nela podemos ver Aleister Crowley entre as personalidades retratadas. Ozzy Osbourne compôs uma música intitulada “Mr. Crowley”, que acabou se tornando um clássico do heavy metal e uma das preferidas dos fãs. No Brasil, Raul Seixas proferiu a Lei de Thelema com todas as letras em sua música “Sociedade Alternativa”, escrita em parceria com Paulo Coelho. Em muitas outras canções do artista a filosofia de Crowley está presente, mais ou menos explícita, em especial nas composições em parceria com Marcelo Ramos Motta, pioneiro no estudo e divulgação de Thelema no país.
A filosofia de Thelema, que enfatiza a mais ampla liberdade individual, encontrou ressonância na contracultura dos anos 1960 e 1970. A influência de Crowley pode ser vista em movimentos como a psicodelia, onde busca por iluminação espiritual e a experimentação com drogas eram comuns.
Nos quadrinhos, a influência de Crowley também é significativa. O escritor britânico e também ocultista Alan Moore, conhecido por obras como “Watchmen” e “V de Vingança”, foi um dos autores que mais incorporou elementos do esoterismo de Crowley em seus trabalhos. Moore já comentou que acha Crowley um dos maiores ocultistas da história e reconheceu a influência de seus trabalhos em sua própria abordagem artística.
No cinema, a figura de Aleister Crowley também foi retratada. O filme de 1971, “The Devil’s Rain”, estrelado por Ernest Borgnine e William Shatner, apresenta uma interpretação fictícia de Crowley como líder de um culto satânico. Além disso, a figura do “mago malvado” com traços de Crowley também foi retratada em filmes como “Eyes Wide Shut” (De Olhos Bem Fechados) de Stanley Kubrick, que incorpora elementos de ordens e rituais secretos. “Chemical Wedding” é um filme de 2008 com roteiro de Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden, e traz vomo protagonista um professor possuído pelo espírito de Crowley. Em 2013 um documentário sobre o mago intitulado “Aleister Crowley – Legend of the Beast” foi lançado.
Aleister Crowley em estilo “funko”, figura criada por um artesão independente, um presente da minha filha 🙂 Ao fundo, uma reprodução da Estela da Revelação. (Foto: acervo pessoal)
Qualquer que seja o campo de estudos dentro do esoterismo e do ocultismo, é impossível ignorar a figura de Aleister Crowley e o impacto provocado pelo “Livro da Lei”. A vida e obra deste célebre ocultista, mago, escritor, poeta, pintor, alpinista e enxadrista inspiraram e intrigaram artistas e criadores em várias formas de expressão. Sua influência continua a ser uma parte duradoura do imaginário coletivo e do fascínio pelo oculto na cultura popular. E, ao que parece, deve continuar assim por bastante tempo.
“A maçonaria é perfeita, imperfeitos são os maçons”.
Com essa frase, muitos maçons tentam justificar o gritante processo de deterioração pelo qual a maçonaria passa atualmente, começando no banco de aprendizes das lojas com metástases atingindo o próprio grão-mestrado de praticamente todas as potências mundiais. Trata-se de um discurso triunfalista tolo e que serve de muleta para ignorar um grave problema.
Muito daquilo que foi, já não é mais. A iniciação não mais é vista através de seu profundo simbolismo esotérico e sim como um mero teatro, inclusive embaraçoso, para muitos. Os rituais, pensados e escritos para instigarem na mente dos membros novos paradigmas, são considerados uma obrigação enfadonha e que deveriam ser simplificados o tanto quanto possível, de preferência até a própria abolição. A maçonaria, outrora uma instituição respeitada e presente, com representantes de vulto participando de importantes acontecimentos históricos, hoje é socialmente irrelevante e parece não se importar de viver deste passado, como se fosse um museu de curiosidades, onde membros celebram glórias que nunca foram suas.
Mas qual a causa disso tudo? A resposta, ou parte dela, está em um compromisso assumido pelos maçons no dia de sua iniciação, mas diligentemente ignorado por todo o resto de sua caminhada: combater a ignorância.
É comum vermos aprendizes empolgados e questionadores sendo tratados como crianças e constantemente tendo suas perguntas deixadas sem resposta, isso quando não recebem uma “bronca”, como se perguntar fosse um atrevimento. O mestre maçom, em vez de esclarecer, orientar e instigar a curiosidade do irmão recém-iniciado, retruca: “Isto está além do seu grau”. Ora, ora! Interessante maneira de esconder sua própria falta de estudo. A imensa maioria das lojas não tem um programa sério de instruções e aprofundamento. De fato, a maioria sequer estuda o mero ritual – livrinhos com pouco mais de 100 páginas, que são constantemente ignorados.
De fato, este é um seríssimo agravante: a falta de estudos do próprio rito e dos temas maçônicos, inclusive do próprio sentido esotérico e espiritual do que seja uma ordem iniciática, é um fator determinante para a degeneração da instituição. Rituais sendo executados descuidadamente, ou pior, de maneira errada; falta da intenção correta na execução dos rituais, enfraquecendo todo o sentido simbólico ali presente; adulterações – intencionais ou por inépcia – na condução das cerimônias; postura corporal inadequadas no interior dos templos; celulares sendo usados no meio das sessões; conversinhas paralelas; e por aí vai. Visitar uma loja maçônica hoje em dia, muitas vezes, é uma aula do que não se deve fazer em um ritual maçônico.
Estudos simbólicos, debates filosóficos e aperfeiçoamento da prática ritualística dão lugar a um infindável ramerrão de burocracia e problemas que, na maioria das vezes, são criados pela própria loja. Ou, num extremo oposto, delírios misticalóides e ladainhas pseudo-espiritualistas são apresentados nas sessões por membros que, também por ignorância e falta de estudo, trocam o simbolismo e esoterismo verdadeiros por engodos e charlatanismos. Ou ainda, em atitudes demonstrando toda a sua pequenez, muitos insistem em transformar as sessões em bizarros palcos para politicagem e proselitismo eleitoral. Discussões mundanas que nada têm a ver com o espírito de uma sessão maçônica se arrastam, em uma excruciante tortura para as pobres almas que pensaram que iam ali encontrar um ambiente intelectualmente estimulante e filosoficamente inspirador. A consequência disto é a única possível: um maçom pessimamente instruído será um péssimo instrutor. Cada um desses membros, que jamais entenderão porque estão ali e para onde devem ir, farão parte da piora sistemática do ambiente maçônico e da instituição em geral.
Em seu provocativo livro “A Grande Degeneração: A Decadência do Mundo Ocidental”, Niall Ferguson instiga os leitores a repensar as estruturas e instituições fundamentais de suas sociedades e a agir de forma a reverter a tendência de decadência que assola o mundo moderno. Ele destaca a importância da confiança e cooperação entre os indivíduos para o funcionamento saudável de uma sociedade. Transportando este recorte para as instituições maçônicas – potências, obediências, lojas – percebemos que até mesmo o sentido de união, tão fortemente enraizado nos mais básicos ensinamentos da maçonaria, é perdido em meio a tantas distrações, distorções e desvios que assombram a maçonaria nos dias atuais.
E, me parece, este problema está longe de uma solução. Além da falta de foco maçônico nas atividades das lojas, ainda temos uma pobreza de pensamento dominando a busca de membros, onde o interesse por uma ordem iniciática passa a ser o menor dos pontos de atenção em relação aos candidatos. O que manda hoje, infelizmente, é o status social, o poder aquisitivo ou amizades de mesa de bar. Candidatos são apresentados por padrinhos que destacam as supostas qualidades de seus indicados: “Este aqui é médico! Este outro é um grande empresário! Este outro conta piadas como ninguém!” Como se a profissão ou a simpatia do candidato fosse fator determinante para sua futura caminhada maçônica. E, óbvio ululante, conforme decai a qualidade dos indivíduos, a decadência da instituição se torna mais acelerada e acentuada.
Para entender o que a maçonaria deve ser, é preciso entender o que ela não é. A maçonaria não é um clube social. Não é uma confraria para troca de favores entre seus membros, tampouco uma agremiação político-partidária. A maçonaria jamais deveria ser vista como religião ou como substituta de uma crença ou fé. Outro ponto que merece esclarecimento: A maçonaria não é uma entidade única, com uma só característica; em cada país, essa secular ordem iniciática ganhou contornos e aspectos peculiares de acordo com a sociedade na qual está inserida. É fato que compartilha mundialmente os mesmos símbolos, lendas e ensinamentos, mas cada país ou região desenvolveu a maneira de fazer maçonaria ao seu modo e não há nenhuma mais certa ou mais errada que a outra, desde que se atenha aos princípios norteadores que um maçom dedicado sabe muito bem quais são. A maçonaria tem, ou deveria ter, como primordial função, despertar no homem uma nova consiência de si, um olhar para seu próprio interior, para melhorar como indivíduo e cumprir seu papel como construtor de um edifício social mais ético e justo. Todo o resto? Moscas.
Como uma organização dedicada ao autoaperfeiçoamento e à autorealização do homem, a maçonaria precisa urgentemente de uma reforma, não na sua forma, mas na sua essência.
O esoterismo é um termo que se refere a uma abordagem filosófica e espiritual do conhecimento e compreensão dos aspectos mais profundos e ocultos da existência humana e do universo. A palavra “esoterismo” tem origem no grego e significa “interior” ou “dentro”. Dessa forma, o esoterismo está relacionado a um conhecimento reservado, restrito a um grupo seleto de pessoas que buscam desvendar os segredos e significados subjacentes da realidade. Muito se fala em esoterismo maçônico ou esoterismo na maçonaria. Mas antes de adentrarmos neste assunto, é fundamental que se pontue as diferenças entre esoterismo, misticismo e magia. Embora os termos estejam relacionados e frequentemente se sobreponham, cada um possui características distintas. O esoterismo refere-se a um sistema filosófico e espiritual, envolve a exploração de símbolos, rituais e práticas específicas para obter um entendimento mais profundo da existência e da natureza humana.
O Delta Luminoso, símbolo esotérico maçônico
O esoterismo busca o conhecimento interior e a transformação pessoal por meio da compreensão da realidade além do que é aparente. Pode abranger diversas tradições, como a alquimia, a cabala (esoterismo judaico), o hermetismo (esoterismo derivado das antigas tradições egípcias) e a astrologia original (estudo dos astros e suas simbologias nas culturas através dos tempos).
O misticismo, por sua vez, é uma abordagem espiritual que envolve a busca por uma conexão direta com o divino ou o transcendente, inclusive, mas não necessariamente, por meio de experiências com estados alterados de consciência, como em algumas tradições xamânicas ou de origem africana. Os místicos buscam uma experiência direta e pessoal da realidade espiritual, transcendendo os limites da mente racional. O misticismo pode estar presente em várias tradições religiosas, como o sufismo no Islã, o misticismo cristão ou o budismo tântrico.
Já a magia é um conjunto de práticas e rituais que buscam influenciar ou manipular a realidade de acordo com a vontade do praticante. Ela envolve a crença na existência de forças ocultas ou energias sutis que podem ser direcionadas para produzir resultados desejados. Embora a magia possa ter uma dimensão espiritual, ela geralmente está mais voltada para a manipulação do mundo físico ou para a obtenção de poder pessoal. Um parêntese: é errado o uso dos termos magia negra ou magia branca, posto que a magia não tem, por si, conotação maligna ou benigna, sendo muito mais uma ferramenta ou um meio para atingir um fim.
Em resumo, o esoterismo é uma abordagem filosófica e espiritual que busca conhecimentos ocultos e a transformação pessoal. O misticismo é uma busca direta e pessoal de experiência espiritual e de conexão com o divino e a magia é um conjunto de práticas para influenciar a realidade do praticante.
O esoterismo, portanto, abrange diversas tradições filosóficas, místicas e religiosas ao redor do mundo. Essas tradições compartilham a crença de que existe uma sabedoria oculta que pode ser acessada por meio de estudos, práticas e símbolos, levando a uma compreensão mais profunda da natureza humana e da realidade.
O conhecimento maçônico é oculto por meio de símbolos
Uma das características centrais do esoterismo é a busca pelo conhecimento interior e pela transformação pessoal. Essa jornada envolve explorar a natureza simbólica da realidade, descobrir verdades ocultas e desenvolver uma consciência ampliada.
Os ensinamentos esotéricos muitas vezes são transmitidos de forma oral ou por meio de textos criptografados, exigindo um estudo dedicado e uma abordagem contemplativa para alcançar sua compreensão mais profunda. Grupos ou escolas fechadas são ambientes buscados pelos esotéricos, pois nesses espaços podem compartilhar conhecimentos e práticas específicas, protegidos daqueles que não estão preparados ou não têm o compromisso necessário para assimilá-los adequadamente.
No entanto, é importante notar que o esoterismo não se limita apenas à busca de conhecimento oculto ou a uma elite restrita de iniciados. Também está relacionado à busca individual por um sentido mais profundo da existência, à exploração de uma espiritualidade mais íntima e pessoal e, muitas vezes, mas não obrigatoriamente, ao desenvolvimento de uma conexão com o divino ou o transcendente, porém com base filosófica e não mística.
Posto isto, podemos afirmar que o esoterismo, neste sentido estrito, desempenha um papel significativo dentro da tradição maçônica. A maçonaria é uma sociedade iniciática que utiliza simbolismos e rituais para transmitir ensinamentos morais e filosóficos aos seus membros. Muitos desses símbolos e rituais são projetados para transmitir conhecimentos velados aos olhos das massas e despertar a consciência dos maçons.
O sistema de estudos maçônicos busca aprimorar a natureza interior do indivíduo por meio do estudo, da reflexão e do engajamento em rituais simbólicos. Os símbolos maçônicos, como o compasso, o esquadro, a pedra bruta, o avental, entre outros, têm significados que vão além de seu aspecto superficial – significados velados, ocultos ou esotéricos. Eles são usados para transmitir ideias abstratas, como moralidade, busca pela verdade e autoaperfeiçoamento.
O estudo dos símbolos e rituais maçônicos é uma parte fundamental da jornada do maçom, que é encorajado a explorar e interpretar os significados desses símbolos e rituais em sua caminhada individual de autodescoberta e desenvolvimento pessoal.
Importante salientar que a maçonaria também teve e tem influências de outras tradições esotéricas, como a Cabala, a astrologia, o hermetismo e o rosacrucianismo, para citar algumas. Essas tradições fornecem uma base de conhecimentos simbólicos e filosóficos que enriquecem a experiência dos maçons.
A influência de tradições esotéricas na maçonaria é notável
No entanto, nem todos os maçons estão envolvidos ou interessados no aspecto esotérico da maçonaria. A fraternidade maçônica é diversa e cada membro tem suas próprias motivações e interesses pessoais. Enquanto alguns maçons se dedicam ao estudo e à exploração do esoterismo maçônico, outros podem se concentrar mais em atividades sociais, ações de solidariedade e no sentimento de irmandade e de pertencimento que a maçonaria proporciona.
Entender a diferença entre o verdadeiro esoterismo maçônico e “invencionices esquisotéricas”, ou “saladas” que denotam um fascínio pueril por um suposto mundo sobrenatural, muitas vezes embrulhado em espessas camadas de charlatanismo, é essencial para esclarecer os neófitos e fornecer uma experiência verdadeiramente educativa e de engrandecimento pessoal aos maçons.
“Magus” é uma obra clássica escrita por Francis Barrett, ocultista inglês. Publicado originalmente em 1801, “Magus” aborda diversos tópicos sobre magia cerimonial, esoterismo, alquimia, astrologia, cabala e hermetismo.
Magus – edição nacional, Ed. Mercuryo, 1994
Dividido em três partes, o livro começa com uma descrição dos princípios básicos da magia e das artes ocultas. Barrett discute a natureza dos elementos, o simbolismo dos astros e dos planetas, e a relação entre o mundo físico e o mundo espiritual. Na segunda parte, Barrett apresenta um estudo de astrologia, explorando as correspondências simbólicas e astrológicas, buscando oferecer um guia abrangente para a interpretação dos mapas astrais. A terceira parte do livro é dedicada à prática da magia cerimonial. Barrett oferece instruções sobre como realizar rituais, fazer círculos mágicos e como proceder nas invocações e conjurações.
É importante notar que “Magus”, embora seja considerado uma obra clássica sobre ocultismo e magia, contém erros e imprecisões, especialmente em relação à Cabala. Barrett tende a apresentar uma visão simplificada e superficial, além de estabelecer algumas correspondências arbitrárias entre conceitos cabalísticos, astros e outros elementos. Isso pode levar a associações incorretas e interpretações distorcidas, notadamente quando se estuda a Cabala levando em conta suas raízes na tradição judaica. Portanto, é recomendado que os leitores tenham atenção e consciência de que as informações apresentadas por Barrett não são um retrato preciso e completo dessa tradição mística.
Ainda assim, “Magus” é de grande importância no campo da magia e ocultismo. Publicado pela primeira vez em 1801, o livro é uma compilação abrangente de conhecimentos e práticas mágicas, apresentando uma visão abrangente e sistemática da magia e das ciências ocultas. No início do século XIX, o interesse pelo ocultismo e pela magia estava crescendo rapidamente, mas a informação era dispersa e muitas vezes difícil de obter. Barrett procurou reunir esse conhecimento em uma obra acessível, proporcionando um manual prático para aqueles que desejavam se envolver na magia e nas artes ocultas. A obra, portanto, reflete a mentalidade e a época em que foi escrita.
Aliás, aqui cabe um parêntese importante: “Magus” é repleto de passagens selecionadas e adaptadas da obra “Três Livros de Filosofia Oculta”, de Cornelius Agrippa, e do “Heptameron” de Pedro de Albano. Barrett tanto fez modificações nas premissas destas obras, baseadas em suas próprias interpretações, quanto simplesmente copiou outras passagens, mudando levemente a linguagem, adaptando para os leitores de sua época.
Ainda assim, a importância histórica de “Magus” é inegável, por sua contribuição para o desenvolvimento e a preservação do conhecimento oculto. Basta dizer que essa obra é anterior ao “Dogma e Ritual da Alta Magia”, de Eliphas Levi, por exemplo. “Magus”, portanto, serviu como um ponto de referência para muitos estudiosos e praticantes ao longo dos anos e seu impacto pode ser sentido até os dias de hoje.
Sobre Francis Barrett
Francis Barrett nasceu em meados do século XVIII. A depender da fonte, diz-se que seria inglês ou irlandês. Ganhou um certo reconhecimento nos círculos esotéricos de sua época dando aulas de magia e ciências ocultas. Barrett alegou ter estudado diversas disciplinas ocultas, incluindo astrologia, alquimia, cabala e hermetismo. No livro, se apresentava como “estudioso de química, metafísica, filosofia natural e oculta”. Embora “Magus” tenha sido bem recebido entre os estudiosos ocultistas da época, Barrett não obteve sucesso financeiro com a obra. Após a publicação, ele parece ter desaparecido das atenções públicas, e poucos detalhes adicionais sobre sua vida posterior são conhecidos.
“Dogma e Ritual da Alta Magia”. Esta é, sem dúvidas, uma obra seminal. Escrita por Eliphas Levi, pseudônimo de Alphonse Louis Constant, ocultista e teórico da magia do século XIX e publicado originalmente em 1854, o livro se tornou um dos mais influentes tratados sobre magia e esoterismo, cativando a mente de estudiosos, ocultistas e curiosos ao longo dos anos.
Dogma e Ritual da Alta Magia, Ed. Pensamento, 1994
Eliphas Levi buscou nessa obra explorar os princípios fundamentais da magia, tanto em termos de sua filosofia quanto de sua prática ritualística. Com uma abordagem erudita, ele se propôs a unir as correntes mágicas herméticas, cabalísticas e místicas em um sistema coeso e compreensível. Levi delineia a estrutura do universo mágico, descrevendo as forças ocultas que permeiam a realidade e o papel do mago em manipular essas energias sutis. Ele explora conceitos como o macrocosmo e o microcosmo, enfatizando a interconexão entre o homem e o Universo. O autor também mergulha nas antigas tradições, como a astrologia, a alquimia e a cabala. E talvez sejam nessas tentativas de imersão de onde partam as críticas mais contundentes à obra nos dias de hoje. Porém, é necessário colocar certas coisas em perspectiva.
É fato que, no tempo de Levi, havia muito menos informação disponível para os estudiosos do oculto do que atualmente. Uma busca rápida na internet nos coloca em contato com muito mais informação do que Levi tenha tido acesso em toda a sua vida. Portanto, é natural que haja incompletudes e mesmo equívocos. Mas isso, de maneira nenhuma, desmerece a obra; é necessário que a leitura seja contextualizada. Aquilo que está escrito representa a possibilidade de pesquisa e acesso ao conhecimento da época e é assim que a obra deve ser apreciada.
Levi constantemente reforça a importância do conhecimento e do estudo como fundamentais para o desenvolvimento do mago. Ele enfatiza que a magia verdadeira não é um mero espetáculo de truques ou ilusões, mas sim uma busca pelo autoaperfeiçoamento e pelo despertar espiritual.
“Dogma e Ritual da Alta Magia” também explora a natureza da divindade e do mal, oferecendo uma visão peculiar sobre a dualidade cósmica e a batalha entre forças contrárias. Levi destaca a importância da Vontade e da ética na prática da magia, ressaltando que o poder mágico deve ser empregado com sabedoria e responsabilidade. O livro procura capacitar o leitor com informações sobre as práticas ritualísticas, incluindo a preparação adequada do altar, a invocação dos espíritos, a utilização de sigilos e a utilização de palavras de poder.
Embora algumas das ideias e práticas expostas por Eliphas Levi tenham, como pontuado acima, sido alvo de críticas e contestações ao longo dos anos, “Dogma e Ritual da Alta Magia” continua sendo uma obra essencial para qualquer pessoa interessada em magia, ocultismo e esoterismo. Sua influência perdura até os dias atuais, inspirando novas gerações de estudiosos e praticantes a explorar os mistérios do universo e da própria consciência humana.
The Doctrine And Ritual of High Magic – A New Translation, TarcherPerigee, 2017
P.S. : “Dogma e Ritual da Alta Magia” foi traduzido em 1910 para o inglês por Arthur Edward Waite, membro da Golden Dawn, maçom e um dos criadores do célebre tarô Rider-Waite. A mais recente tradução para o inglês deste clássico foi feita pelo proeminente maçom, druida, escritor e ocultista norte-americano John Michael Greer e publicada em 2017.